Dom Celso Antônio Marchiori
As vozes dos bispos em Aparecida assim nos dizem: “Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja. A Sagrada Escritura, “Palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo”140, é, com a Tradição, fonte de vida para a Igreja e alma de sua ação evangelizadora. Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo. Daí o convite de Bento XVI: “Ao iniciar a nova etapa que a Igreja missionária da América Latina e do Caribe se dispõe a empreender, a partir desta V Conferência em Aparecida, é condição indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus, Por isto, é necessário educar o povo na leitura e na meditação da palavra: que ela se converta em seu alimento para que, por experiência própria, vejam que as palavras de Jesus são espírito e vida (cf. Jo 6,63). Do contrário, como vão anunciar uma mensagem cujo conteúdo e espírito não conhecem profundamente? É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda nossa vida na rocha da Palavra de Deus” (Aparecida, 247).
A Bíblia não é um livro, mas sim uma biblioteca. A Biblioteca mais importante do mundo. Uma biblioteca que contém 73 livros, dos quais 46 são do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. Os assuntos de cada livro não se referem à história, à ciência, à filosofia... mas cada livro, enquanto redigido sob a moção do Espírito Santo, é uma mensagem viva de Deus Pai para nós seus filhos muito amados. Tudo ali tem sentido para a nossa vida no contexto histórico, social e religioso em que vivemos. Por isso, quando nos colocamos diante de um texto bíblico tenhamos atitudes de muito amor e reverência. É Deus que nos está falando. E sua Palavra é eterna, ela permanece para sempre. Ela é, conforme o Salmo 118,105, “um facho de luz iluminando nosso caminho”.
A Palavra da Bíblia, que é “força de Deus para a salvação de todos os que crêem, manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo Testamento” (DV 17). “Estes escritos nos fornecem a verdade definitiva da Revelação divina. Seu objeto central é Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, seus atos, ensinamentos, paixão e glorificação, assim como os inícios de sua Igreja sob a ação do Espírito Santo” (DV 20).
Não existe nenhuma doutrina que seja melhor, mais preciosa e mais esplêndida que o texto do Evangelho. Aí contemplamos o que o nosso Mestre, Cristo Jesus, ensinou com suas palavras e realizou com seus atos (Cf. Catch. R. 127).
“Os Evangelhos são o coração de todas as Escrituras, ‘uma vez que constituem o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo encarnado, nosso Salvador’ (Catch. R. 125). Daí, a importância de o conhecermos através da leitura assídua e meditação destes textos sagrados que estão à nossa disposição para nosso enriquecimento espiritual. Aliás, “a leitura da Sagrada Escritura, como também a oração da Liturgia das Horas e do Pai-Nosso e todo ato sincero de culto ou de piedade, reaviva em nós o espírito de conversão e de penitência e contribui para o perdão dos pecados” (Catch. R., 1437), motivando-nos para um engajamento na comunidade eclesial, concretamente falando, na comunidade paroquial.
Constantemente, por diversos meios, a Igreja nos exorta a todos, fiéis cristãos, a que, pela freqüente leitura das divinas Escrituras, aprendamos “a eminente ciência de Jesus Cristo” contida, particularmente, nos santos Evangelhos (Cf. Catch. R. 133). Segundo a Dei Verbum, nº 25, lembremo-nos, de que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, pois, dessa forma se realiza em nosso interior um verdadeiro diálogo de Deus conosco, pois “a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos" (S. Agostinho). Portanto, assim como reservamos tempo para nos alimentar, dormir, trabalhar, estudar, assim também reservemos um tempo, que será precioso, para a leitura e meditação da Palavra de Deus na Bíblia. Que o mês de setembro, dedicado especialmente à Bíblia Sagrada, incentive-nos a cultivar o bom e santo hábito de lermos e meditarmos os textos bíblicos todos os dias.
Citando o documento Dei Verbum, o Catecismo da Igreja nos diz que o poder e a eficácia da Palavra de Deus é tão grande que ela constitui sustentáculo e vigor para nossa Igreja, e, para nós, seus filhos; na medida em que a lemos e a acolhemos como fez Maria, a Mãe de Jesus, a Palavra se torna firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual e nos incentiva a nos comprometermos profunda e concretamente com o Reino de Deus.
Que em cada momento reservado para esse exercício espiritual, possamos contar com a ajuda de Nossa Senhora, que tão bem soube acolher e vivenciar a Palavra de Deus em sua vida. Na verdade, ela gestou o Verbo de Deus em seu ventre virginal e nos proporcionou a graça de o termos entre nós como um de nós, para que assim nos tornássemos como ele, verdadeiros filhos de Deus.
Amados irmãos e irmãs, o meu desejo é que todos possamos manusear mais e melhor a Bíblia Sagrada para nosso crescimento espiritual e para uma vida católica mais comprometida. Iluminados pela Palavra sigamos nosso caminho de discípulos missionários para que o mundo creia e tenha vida.
Deus abençoe a todos.
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