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sábado, 29 de janeiro de 2011

Grupo, amizade e pessoa

Quantas vezes, em nossa juventude, nos traímos em pensamento, divagando sobre a necessidade e a importância das pessoas, de amigos e amigas na construção de nossa identidade, de nossa personalidade e de nosso projeto de vida!

Uma “traição construtiva”. Ainda que queiramos nos afirmar “auto-suficientes”, a vida da gente nos ensina certas coisas que só o coração pode explicar. Ou melhor, só dá para explicar de coração. Ou será que só é possível explicar ao coração?

Por detrás de nossas “fortalezas edificadas”, brilha sempre - fogosa, ardente excitante - a busca eterna do sentido de ser, de sondar as profundezas dos ideais, das angústias, de conhecer... Mesmo que abafemos seu brilho, resfriemos seu calor... no descuido, ela está lá. Do jeito que a deixamos, no ponto onde paramos...

Há dentro de nós um “princípio” que nos move ao diálogo, ao relacionamento, à participação, ao encontro: a amizade. A necessidade de descobrirmos “O Diferente” que existe em cada pessoa. Quando me descubro em mim, já sou eu em ti e tu em mim! Distantes muitas vezes, ausentes nunca, jamais é tarde para o encontro, para a conversa. “Um tempo sem fronteiras, fantasias pelo ar, o mundo é meu, é só deixar...” (Flávio Vezzoni).

Para isso, não é difícil perceber que há sempre muito mais para se caminhar do que todo o percorrido. Ao longo de toda a vida, a busca de sentido fundamental da existência vai-se assemelhando a “cavar um buraco em água!” Constitui-se simultaneamente numa decepção e numa alegria. Decepção por nunca ver aumentar a profundidade do buraco. Alegria por saber que, por mais que se “cave”, sempre haverá muito mais água chegando para tomar o lugar daquela que foi retirada” “Prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. (Raul)

Por esta razão torna-se tão importante a participação e o envolvimento em grupos de referência. Seja em grupos para esportes, de música, de estudos, teatro, grupos de jovens... a “turma” é que marca nossa juventude. É a “água nova” preenchendo o espaço do que julgamos já ter conseguido alcançar. O grupo reproduz uma sociedade em miniatura. É um laboratório de sociedade, espaço de participação, de individualidade e coletividade pedagógicas na nossa formação. Nos desacomoda, projeta, conquista.

Fundamental é a amizade

A amizade deve ser buscada. Ela ou é verdadeira, ou não é amizade. É manifestação da alma perscrutando o infinito, fugindo à distância e ao tempo, criando eco na pessoa do outro, da outra, unindo culturas, línguas, religiões... comprometendo, sonhando!

“Sonho que se sonha só, é ilusão!” Em grupo é diferente! Nem melhor, nem pior. O diferente é simplesmente diferente. Por si próprio. O grupo torna “pessoa, os anseios e projetos conhecidos nas relações de “seres em rotação universal”. “O novo” que brota, é sacramento da busca eterna. Ao final, o que há de ficar serão os semblantes, as confidências, as pessoas...

“Mas quem cantava, chorou ao ver seu amigo partir. Mas quem ficou, num pensamento voou, com seu canto que o outro lembrou. E quem voou no pensamento ficou com a lembrança que o outro cantou” (Milton).


Fonte: Mundo Jovem
Gilberto Flach (Beto),
Artigo publicado na edição 285 do Jornal Mundo Jovem, março de 1998, página 17.

Postado Por Felipe Drews

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