Por Diácono Carlinhos
Certa vez li um livro que falava sobre as “pequenas mentiras e os grandes transtornos” que estas trazem. Sobre este assunto há vasta literatura, pois é uma discussão entre filósofos, sociólogos, linguistas, psicólogos e também cidadãos comuns que as utilizam ou são vítimas dela no dia a dia.
Porém é muito importante termos em mente que a mentira, por mais inocente que pareça ser é um recurso perigoso para quem conta, pois compromete o grau de confiança em relação a quem ouve. “O lábio de verdade ficará para sempre, mas a língua mentirosa dura só um momento.” (Provérbios 12, 19).
Muitas vezes ouço pequenas mentiras de pessoas que prezo e gosto muito e eu lhes asseguro isso é bem dolorido, pois vai aos poucos fragilizando a relação de confiança, de carinho, de amor, de respeito e compreensão que existe entre a gente.
Além disso, quem mente passa a conviver com dois fantasmas: o da MENTIRA e o do MEDO de ser descoberto. Por mais que a gente acredite que não vai fazer mal contar uma mentirinha, uma coisa é certa: a mentira contada tem pernas curtas, como normalmente tem, assim será descoberta e contar outra não vai resolver o problema. Muitas vezes, inclusive, já sabemos da verdade, outra pequena mentira fragiliza e compromete ainda mais a relação de confiança.
No livro que li dizia: “Confiança é como um castelo de cartas, ou lego, demora para se construir, uma carta por vez, uma peça por vez. Mas desmorona com uma facilidade incrível, e depois mesmo quando refeito, nunca ficará igual ao original.”
Uma das formas que considero mais eficaz de corrigir isso é “abrindo a caixa da verdade”. Olhar para trás e verificar o que essa pessoa representa para mim. Por uma questão de justiça e principalmente por amor e respeito, convido-a para sentar-se e aos poucos vou trazendo a verdade. Dou-lhes a mais absoluta certeza que isso não tem preço, pelo menos comigo funciona, é fundamental para reconquistar a confiança abalada na ocasião. Asseguro-lhes que minha admiração e respeito por essa pessoa inclusive aumenta.
Alem do mais, temos que atentar que para um cristão não existe mentira positiva. Todas são negativas e têm poder suficiente para acabar com qualquer relacionamento, já que a base mais sólida das relações humanas é a CONFIANÇA. Desde o início São Paulo deixou claro que Deus não mente. O fundamento de nossa fé é a confiança no caráter de Deus. Ele é a fonte de toda verdade, não pode mentir. Crer em Deus nos leva a viver um estilo de vida que o honra, primando pela verdade. A vida eterna que Deus prometeu será nossa porque Ele mantém suas promessas. Edifique uma fé alicerçada em um Deus fidedigno, que nunca mente. E São Paulo afirma ainda: Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas. (Colossenses 3, 9).
Eu, particularmente, acredito que a verdade é sempre oportuna; é aplicável tanto ao presente como no futuro. Se afirmarmos que estamos em comunhão com Deus, ao mentirmos e não praticarmos a verdade rompemos essa comunhão e sobre isso São João nos assegura que aqueles que estão em comunhão com Deus, experimentam a sua graça e vivem em santidade na sua presença, ou seja, vivem na VERDADE.
Nas Escrituras Sagradas encontramos: “O justo prefere sofrer por falar a verdade do que evitar o sofrimento usando de mentira (Dn 3, 16-18). Tais pessoas sabem que mentir por hábito é pecar contra o Senhor (12, 22), que viver desse modo é excluir-se do reino de Deus” (Jo 8, 44). E São Paulo nos diz ainda: “Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo.” A mentira rompe a unidade porque cria conflitos e destrói a confiança. Ela também acaba com os relacionamentos e leva os membros da igreja (amigos/irmãos) a um evidente clima de hostilidade e conflito.
Observem que os dois últimos capítulos da Bíblia (no Livro do Apocalipse) há um destaque para o caso da mentira. Os praticantes da mentira são mencionados três vezes: primeira - todos os mentirosos, “a sua parte será no lago que arde com fogo” (21, 8); segunda - os que cometem mentira não entrarão na cidade eterna de Deus (21.27); e terceira - os que amam e cometem mentira estarão fora do reino eterno de Deus. Portanto, a mentira é o pecado final condenado na Bíblia, possivelmente porque foi uma mentira que levou à queda da raça humana (Gn 3, 1-5; cf. Jo 8, 44). Estas palavras solenes devem servir de advertência a todos que inclusive na igreja, acham que Deus tolera a mentira e o engano.
Sabemos que a mentira pode surgir por várias razões: receio das consequências (quando tememos que a verdade nos traga consequência negativas); insegurança ou baixa de autoestima (quando pretendemos fazer passar uma imagem de nós próprios melhor do que a que verdadeiramente acreditamos); por razões externas (quando o exterior nos pressiona ou por motivos de autoridade superior ou por coação); por ganhos e regalias (de acordo com a tragédia dos comuns, se mentir trás ganhos vale a pena mentir já que ficamos em vantagem em relação aos que dizem a verdade) ou por razões patológicas.
Agora eu volto lhes assegurar que é terrível após a gente perder a confiança na pessoa que amamos, prezamos e temos consideração por causa das “pequenas mentiras”. E muito complicado a cada afirmação termos que ficar naquela indecisão, será que essa é a verdade ou é mais uma mentira. Pois mesmo fazendo um esforço danado para não cometermos o pecado do pré-julgamento, ficarmos nessa insegurança e indecisão.
Concluo-lhes dizendo que a “caixa da verdade” é a única maneira de reestabelecer a confiança. E confiança é um sentimento que não tem preço, porque junto reestabelece o carinho, o respeito, além de estreitar os laços de amizade, comprometimento, compreensão e comunhão.
Pense nisso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário