Por Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Alguém dos ouvintes da multidão pôs uma questão a Jesus: “São poucos os que se salvam?” (Lucas 13, 22-30). Problema antigo, problema também nosso. As pessoas andavam preocupadas. Viviam como hoje ocupadas com tantas coisas materiais: o dinheiro, a casa, as férias, a carreira. De vez em quando vem à tona alguma questão do outro mundo.
Nos tempos de Jesus, havia os otimistas, seguros que Israel teria em bloco um lugar no banquete do futuro messias; os pessimistas: “Deus fez este mundo para muitos, mas o futuro para poucos”.
O tema da leitura evangélica de hoje é a salvação escatológica entendida como admissão ao banquete de Deus e do seu reino. O ouvinte de Jesus põe-se o problema olhando-o de fora. Pergunta normal no ambiente farisaico daquele tempo e se repetiu de diversos modos nos tempo da Igreja.
Entre nós, são numerosos os que querem ter resposta precisa e definitiva sobre o número dos que entrarão no céu; e por isso se discute sobre a sorte das crianças que morrem antes de ser batizadas, dos infiéis, dos heréticos e dos malvados.
Jesus não queria dar resposta a esta pergunta: não era sua missão apagar a curiosidade da gente. Além do mais, a plenitude do homem não é questão de estatísticas, de normas gerais ou de sondagens. Ele responde a seu ouvinte apresentando-lhe a existência do reino e a sua exigência; “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Esta é a verdade; todos os outros problemas são inúteis.
Havia sempre tanta gente em torno do Senhor, e tantos curiosos. A pergunta feita a Jesus podia nascer da curiosidade, mas também de interesse religioso sincero. Jesus era a pessoa justa para responder. Tinha fama de profeta. Diziam que era o messias. Jesus responde com o discurso sobre a pertença ao Reino de Deus. Como fazia muitas vezes, vai além dos limites da pergunta e revela verdades mais profundas. Também desta vez recorre a imagens fantasiosas e a breves parábolas.
Fala do reino de Deus como de uma grande casa que tem uma porta: uma só e estreita. Diz que a casa tem dono, e que ele à certa hora fecha a porta. Assim, quem está dentro, está dentro; quem está fora, fica fora. Diz da gente que se ilude, que se acha de casa na casa do dono, e ao invés não entrará, mas ficará fora. Diz ainda que em compensação entrarão outros, vindo também de muito longe.
Aqueles que comeram com Jesus, que o chamam seu Senhor e que todavia lhe são estranhos, são em primeiro lugar os judeus que se converteram ouvindo a sua palavra; mas são também os cristãos que comeram com Jesus, a eucaristia, escutaram a sua palavra e o chamaram Senhor na oração. Praticaram a injustiça, não puseram em prática a palavra de Jesus, não receberam a mensagem de seu reino, e portanto ficam fora.
Somente à luz desta exigência, à luz da condenação que ameaça os que fazem parte da comunidade externa de salvação, adquire sentido a palavra sobre aqueles que estão fora: “Virão do oriente e do ocidente”.
Vejamos expressões usadas pelo Senhor: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”, como uma luta esportiva, é necessário o esforço máximo para conseguir a vitória. Para entrar pela porta estreita , é preciso empenhar-se ao máximo, até à morte.
O dono da casa fecha a porta. Se alguém durante a vida não fez nada para entrar, não lhe resta senão ficar fora. E o dono dirá: “Não vos conheço, não sei de onde sois”. Entrar ou não, é ato de livre escolha. Quando o dono fecha a entrada, isto é chega a morte, os jogos foram feitos. Jesus insiste sobretudo sobre a conversão do coração, mas é claro que quem exclui Deus da sua vida, se exclui sozinho.
A novidade está dentro dessa casa singular: nela segundo Jesus resulta surpreendente a assinalação de postos: alguns daqueles que a instituição oficial era levada a considerar os últimos, ficarão nos primeiros postos, e alguns dos primeiros serão os últimos. Parece entender que Deus não aprova que alguém possa ter o monopólio. Deus atende todos aqueles que se esforçam por entrar pela porta estreita, e os acolhe segundo a sua boa vontade.
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